quinta-feira, julho 24, 2008

Crônica de um amor anunciado

(Por Martha Medeiros)


Toda pessoa apaixonada é um publicitário em potencial. Não anuncia cigarros, hidratantes ou máquinas de lavar, mas anuncia seu amor, como se vivê-lo em segredo diminuísse sua intensidade.

O hábito começa na escola. O caderno abarrotado de regras gramaticais, fórmulas matemáticas e lições de geografia, e lá, na última página, centenas de corações desenhados com caneta vermelha. Parece aula de ciências, mas é introdução à publicidade. Em breve se estará desenhando corações em árvores, escrevendo atrás da porta do banheiro e grafitando a parede do corredor: Suzana ama João.

A partir de uma certa idade, a veia publicitária vai tornando-se mais discreta. Já não anunciamos nossa paixão em muros e bancos de jardim. Dispensa-se a mídia de massa e parte-se para o telemarketing. Contamos por telefone mesmo, para um público selecionado, as últimas notícias da nossa vida afetiva. Mas alguns não resistem em seguir propagando com alarde o seu amor. Colocam anúncios de verdade no jornal, geralmente nos classificados: Kika, te amo. Beto, volta pra mim. Everaldo, não me deixe por essa loira de farmácia. Joana, foi bom pra você também?

O grau máximo de profissionalismo é atingido quando o apaixonado manda colocar sua mensagem num outdoor em frente à casa da pessoa amada. O recado é para ela, mas a cidade inteira fica sabendo que alguém está tentando recuperar seu amor. Em grau menor de assiduidade, há casos em que apaixonados mandam despejar de um helicóptero pétalas de rosas no endereço do namorado, ou gastam uma fortuna para que a fumaça de um avião desenhe as iniciais do casal no céu. A criatividade dos amantes é infinita.

O amor é uma coisa íntima, mas todos nós temos a necessidade de torná-lo público. É a nossa vitória contra a solidão. Assim como as torcidas de futebol comemoram seus títulos com buzinaços, foguetório e cantorias, queremos também alardear nossa conquista pessoal, dividir a alegria de ter alguém que faz nosso coração bater mais forte. É por isso que, mesmo não sendo adepta do estardalhaço, me consterno por aqueles que amam escondido, amam em silêncio, amam clandestinamente. Mesmo que funcione como fetiche, priva o prazer de ter um amor compartilhado.


Colaboração: Zé Manzano.
Gostei e trouxe pra vocês.

11 comentários:

Osc@r Luiz disse...

O amor é o encontro da metade...

Metade
Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.


Um beijo, minha amiga!
Seu blog é uma obra de arte e merece ser tratado como tal...

Menina do Rio disse...

O amor é a mola do mundo! Por isso tem que ser propagado, porque espelha felicidade, ilumina e torna a vida mais bela


Um beijinho pra ti

Lívia Freitas disse...

Muito lindo esse texto. Amei a frase: "É a nossa vitória contra a solidão", mesmo não sendo "adepta ao estardalhaço"! Bjos

Carmim disse...

Também não sou adepta do estardalhaço, mas concordo plenamente que todos sentimos necessidade de exteriorizar esse sentimento e "partilhá-lo" com algumas pessoas que nos importam.

Mas sabe, ultimamente ando bem mais cuidadosa com esse tipo de propaganda. Só falo se realmente tiver o mínimo de certezas do que realmente sinto e a outra pessoa sente.

Beijo querida.
Um óptimo fim de semana.

Cin disse...

Mto legal o texto. Aliás Martha é sempre ótima né? O meu amor é escancarado, não sei amar diferente.
Bjos linda!

Cin disse...

Mto legal o texto. Aliás Martha é sempre ótima né? O meu amor é escancarado, não sei amar diferente.
Bjos linda!

Alice disse...

Muito legal !! bom mesmo !!

bjkassssssss

c disse...

Adoro textos da Martha!!!

Beijos

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Amiga JAC C., belíssimo texto... Adorei!!!
Votos de bom Domingo, beijinhos de carinho,
Fernandinha

Jaqueline Sales disse...

Ah, sempre o velho e bom amor a nos inspirar, Jack!

BeijUivooooooooooosssssss da Loba

Margarete Bretone disse...

Nossa, esse texto diz tudo, né?! E essas fases realmente existem. Somos todos publicitários, hehehe.
Beijinho